Para mim foi irresistível ver o filme Barbie com todo o frenesim em torno do filme. A minha principal preocupação era a minha visão masculina impedir de absorver todas as subtilezas das mensagens passadas. No entanto o filme está inteligentemente bem conseguido e mesmo as pessoas com as maiores palas nos olhos o vão entender. 3 notas rápidas que retive:
1 - Isto é um filme feito com apoio na Mattel, mas que critica o modelo de negócios da Mattel e a sua visão do que deve ser uma mulher: Logo a 1º cena do filme é um remake da famosa cena inicial do filme “2001 - Odisseia no Espaço”. A boneca Barbie substituindo o monólito é aqui apresentada como revolucionaria, tendo desfeito a ideia de que as bonecas deviam ser parecidas com bebés, para treinar o papel maternal. Agora, pelo contrário, pretende-se dar às crianças um modelo de mulher emancipada, perfeita, que pode ter qualquer profissão. Ao longo do filme esta ideia, de que a mulher que tem de ser perfeita em todas as dimensões, é atacada, e em alternativa é sugerido um novo conceito do que deveria ser a boneca e o seu papel. Eu interpreto que a Mattel usou o filme para fazer brainstorming interno e numa lógica comercial tentar mudar a sua estratégia de acordo com a reação que o filme vai ter.
2 - As estruturas de poder na sociedade não são muitas vezes reconhecidas tanto por quem delas beneficia como por quem é prejudicado. Um dos momentos mais fascinantes do filme (e se calhar porque sou homem) é quando Ken, subalternizado no reino da Barbieland, descobre que no nosso mundo real os homens dominam e aprendendo os meandros deste domínio e num golpe de estado impõe o patriarcado dos Kens em Barbieland. Na sequência as Barbies de Barbieland deixam de conseguir perceber que os Kens passaram a dominá-las, ficando submissas. A hiperbolização como é apresentada esta parte do filme, é uma chamada de atenção para as nossas sociedades que têm estas estrutura de poder discriminatórias de género ou raciais, e em que quem beneficia não reconhece o privilégio e quem é prejudicado aceita muitas vezes esta posição subalterna de forma passiva
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3 - Cada vida individual é valiosa, finita e cada um tem de encontrar o sentido para a vida. Esta ideia da morte, da vida ser finita surge várias vezes no filme, assim com o valor individual de cada pessoa. A perfeição é algo que não pode ser absoluto, devendo-se aceitar as nossas imperfeições e limitações, e dada a nossa breve existência devemos lutar para tornar a nossa vida e a dos nossos semelhantes mais justa. A cena final ficcionada de um diálogo da Barbie com a criadora destas bonecas, Ruth Handler, concretiza bem este dilema.
Conclusão: este filme superou as minhas expetativas e fiquei mesmo com vontade de revê-lo em especial em alguns diálogos que merecem ser pausados e digeridos de forma mais lenta, dando como exemplo a cena final com Ruth Handler ou monólogo de América Ferrara
Sendo um filme que podemos caracterizar de feminista, também é dirigido aos homens, e os menos preconceituosos vão também gostar do filme e refletir sobre o que podem fazer para tornar a nossa sociedade mais justa e igualitária
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