As eleições de 10 de março aproximam-se com grande rapidez. Mas da sucessão de sondagens, comportamento e postura dos candidatos já é possível tirar conclusões e em 5 pontos justifico porque Pedro Nuno Santos vai ser o próximo primeiro-ministro e como a alternância PS-PSD acabou definitivamente devido ao crescimento do CH
1) O PS vai ter um resultado similar às derrotas sofridas no passado em legislativas
Ainda é dificil estimar a votação final do PS mas considerando as sondagens mais recentes, já com distribuição de indecisos será provável que ficará entre os 30 e os 35%. Considerando as derrotas em legislativas mais recentes do PS não é nada de extraordinário. Vejamos:
-Legislativas 2015: PAF (PSD+CDS+PPM) 38,5% | PS 32,3%
-Legislativas 2011: PSD 38,7% | PS 28,1%
-Legislativas 2002: PSD 40,2% | PS 37,8%
Portanto quando vemos comentários (mais à direita) de “indignação” pelo PS estar à frente das sondagens, convém acrescentar que o PS está com projeções eleitorais normais para as situações em que perdeu as legislativas no passado
Mas se é assim porque o PSD não está à frente nas sondagens para as legislativas?
2) O PSD nunca mais será o partido mais votado com o CH acima de 10%
As sondagens consistentemente dão votações ao CH (após distribuição de indecisos) em torno dos 15% e não é irrealista dizer que este partido vai chegar aos 30 deputados. Também não é preciso ser um génio matemático para perceber que se o CH não existisse muito do voto da direita estaria concentrado no PSD e o partido de Montenegro já estaria nas sondagens perto dos 40%, podendo facilmente ganhar as eleições. Não há volta a dar: cada voto no CH é um voto que vai facilitar a vitória do PS. Isto cria um problema para o futuro pois torna-se impossivel o PSD voltar a ganhar eleições em Portugal.
Mas é possivel o PS ganhar e existir maioria de direita no parlamento?
3) O centro não vai querer o CH numa solução de governo
Sempre existiu aquela coisa meio obscura que é o eleitorado de centro que vale 10-15% dos votos. São pessoas pouco politizadas e que não gostam de extremos. Normalmente garantem a alternância democrática entre PS e PSD, e quando acham que determinado partido já está há demasiado tempo no poder, asseguram que não se perpetua essa condição.
Eu costumo dizer que alternância democrática não é o nosso partido/área política ganhar sempre e como tal só existe verdadeiramente uma democracia se existir essa alternância. Sempre achei que esse centro político considera que o PS já está há demasiado tempo no poder e que até poderia ter disposição para votar PSD nestas eleições. No entanto é um eleitorado que detesta extremos. A perspetiva do CH ter votações em torno dos 15% assusta-os e como tal grande parte não vai votar PSD e aqueles que não querem votar PS vão abster-se.
O método de Hondt vai sempre beneficiar o partido que ganhar e num cenário em que o PS vai ser o partido mais votado, que o centro não vai votar maioritariamente no PSD e que o CH vai ter mais de 15%, é minha convicção que vai haver uma maioria de esquerda nas eleições de 10 de março
Havendo maioria de esquerda como vai ser a repartição de votos entre os partidos dessa área política?
4) Não vai haver voto útil à esquerda e não vai ser necessário.
No rescaldo das eleições legislativas de 2022, muitos votantes do BE e PCP com medo de uma vitória do PSD que trouxesse o CH para governo, votaram útil no PS. Foi um arrependimento instantâneo quando o PS teve maioria absoluta e é certo, que da sua perspetiva, não voltarão a cometer o “mesmo erro”.
No entanto estas eleições vão ser interessantíssimas para perceber como se vai distribuir este voto. Penso que claramente quem vai ganhar é o BE que tendo agora 5 deputados vai pelo menos duplicar o nº lugares. O PCP vai continuar a sua tendencia de queda deve perder pelo menos 1 ou 2 deputados dos 6 que têm atualmente. O eleitorado do Livre que seria mais sensível ao voto útil no PS, mas existindo menos pressão não é irrealista ambicionarem passar de 1 para 3 deputados. O PAN parece ter feito a sua prova de vida e demonstrado que existe um eleitorado que valoriza o direito dos animais e deve conseguir 3-4 deputados.
Este crescimento global dos partidos à esquerda do PS é possivel pois Pedro Nuno Santo não vai ter mais do 30-35%
Que arranjos podem ser feito à esquerda para um futuro governo?
5) Pedro Nuno Santos como novo primeiro-ministro não vai ter dificuldade em formar governo
Bem sei que Pedro Nuno Santos é visto com alguém encostado à ala esquerda do PS e defensor da geringonça, mas para os partidos à esquerda do PS é importante perceberem que Pedro Nuno Santos é essencialmente dirigido no seu pensamento pelo pragmatismo e não pela ideologia. Vai ser fortemente questionado na campanha se quer o BE no governo. Provavelmente vai fugir à questão, mas o tema também não é pacifico no BE. Num cenário de descalabro do PSD (com o CH perto dos 20%) o método de Hondt vai beneficiar o PS e pode não ser tão irrealista que um cenário de PS+Livre+PAN possa servir para ter maioria. Nesse cenário teremos um governo de coligação de esquerda pela 1ª vez em 50 anos de democracia. Caso contrário será essencialmente um acordo para passar orçamentos onde o BE será o principal interlocutor, provavelmente bastando que este se abstenha.
Conclusão: Invariavelmente o CH conseguiu acabar com o sistema de alternância de governo entre PS e PSD que sempre existiu na democracia portuguesa. O PSD corre mesmo o risco de implodir, e muitos dos seus dirigentes só agora perceberam o erro de terem sempre ter tratado o CH como aliado em vez de adversário. Será, portanto, mais uma vitória do PS, sendo que a perpetuação de vícios de poder, mesmo que atenuado com uma coligação com outros partidos de esquerda, vai contribuir também para uma continuada degradação da qualidade da democracia portuguesa
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