No início dos anos 80, recordo-me muito pequeno, do abate de um avião de passageiros sul-coreano pela União Soviética e dos comentários de indignação do meu pai de como poderia haver pessoas tão cruéis no mundo capazes de cometerem um ato tão horrível.
Cresci na parte final da Guerra Fria e o mundo dividido era-nos apresentado de forma simplista, existindo um “império do mal” liderado pela União Soviética, que brandia o medo permanente de um conflito nuclear. Existia mesmo literatura abundante sobre como sobreviver a um mundo pós-apocalíptico, que eu (confesso) consumia avidamente.
Esta era nuclear nasceu com o projeto Manhattan no qual os EUA construíram a primeira bomba nuclear que foi usada quase de imediato no Japão, nas cidades de Hiroxima e Nagasáqui a 6 e 9 de agosto 1945 respetivamente, país que se rendeu 1 semana depois, terminando o mais mortífero conflito militar da história: a 2ª Guerra Mundial.
A esta distância é difícil entender como o presidente americano Truman decidiu efetuar um bombardeamento nuclear de populações civis. Sou um intenso consumidor de história e principalmente de história militar e um dos aspetos mais perturbadores da 2ª Guerra Mundial foi o cair progressivo das barreiras morais de quem mais advogava estes princípios. Esta desumanização do inimigo é algo que ocorre sempre em conflitos e quanto mais de arrasta mais intenso se torna.
Curiosamente os EUA foram dos países beligerantes o que mais resistiu ao bombardeamento de populações civis, contra a insistência dos seus aliados britânicos, que consideravam uma forma de acelerar o fim da guerra contra a Alemanha. Só no último ano da guerra os americanos deixaram cair este tabu, primeiro contra as cidades alemãs e depois contra as cidades japonesas. O ataque nuclear foi um passo nesta escalada não pelo nº de vítimas (similar a outros ataques já ocorridos) mas pelo método impensável até então.
Este filme de Nolan parte do princípio de que o espetador já tem parte deste enquadramento, mas penso que com o passar dos anos menos pessoas vão entender o contexto da 2ª guerra mundial ou perceber o ambiente de Guerra Fria que existiu entre os EUA e a União Soviética. O filme pretendia dar uma visão biografica de Oppenheimer, líder do projeto Manhatan, e ao mesmo tempo abordar os dilemas éticos deste projeto e projetar aquilo que seria a Guerra Fria.
Pontos positivos do filme:
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A visão de um Oppenheimer que tentando cumprir o seu papel, é confrontado com os dilemas ético do projeto que dirige sabendo que não terá controlo sobre o uso que será feito com a bomba nuclear. A tensão entre militares e cientistas é algo bem captado neste filme
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O retratar de um período que produziu uma quantidade de “génios” na física e onde foram criados os seus dois pilares fundamentais: a teoria de relatividade geral e a mecânica quântica. É claro se não soubermos quem eram estas pessoas e o que fizeram esta parte do filme passa-nos completamente ao lado
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O momento de countdown para o primeiro teste nuclear, que só assistindo ao filme percebe-se o quão bem foi retratado esse momento, que deixa o espetador à beira de um ataque de ansiedade
Pontos negativos:
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O estilo rápido, sem pausas, sempre a saltitar por várias linhas temporais tornou-se cansativo para o espetador pelo nº de horas. Alias, fica-se com a impressão que com mais cortes, o filme ficaria melhor
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Excesso de tempo dedicado à “perseguição” sobre Oppenheimer no período Mckartista do pós-guerra, não que não seja importante, mas que acaba por parecer que é o tema principal do filme e não o projeto Manhattan
Conclusão: fiquei parcialmente desiludido com o filme (nota 3,5 de 5), pelas múltiplas linhas narrativas que tornaram mais difícil acompanhar e desfocaram do que deveria ter sido o tema principal do filme: os dilemas do projeto Manhattan. Mas esta é uma nota que resulta nas minhas expetativas que foram muito elevadas com toda a excitação gerada em torno deste filme
O medo nuclear que sentia em criança desapareceu com o desmoronamento da URSS e de todo o bloco comunista europeu. Efetivamente com o passar dos anos vamos ficando desligados do facto que efetivamente temos ogivas nucleares para destruir várias vezes a vida na Terra.
Poder ter pessoas desequilibradas como Putin ou Trump com acesso a estes arsenais é uma recordação amarga de que o fim do mundo por armas nucleares nunca estará afastado enquanto estas existirem.
A porta aberta por Oppenheimer nunca mais será fechada
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